Os suplementos de Q10 protegem contra inflamação crónica e stress oxidativo
O organismo utiliza a inflamação como parte da resposta imunitária normal a infecções e lesão tecidual. Contudo, quando a inflamação se torna crónica, pode ser extremamente perigosa! Acontece que ataca o organismo com radicais livres, o que leva a stress oxidativo e aumenta o risco de lesão celular, excesso de peso, e doenças crónicas como diabetes tipo 2, doença cardiovascular, doenças auto-imunes e diversas formas de cancro. A alimentação e o estilo de vida têm um papel preponderante e, segundo uma metanálise, publicada em Frontiers in Pharmacology, a suplementação com Q10 pode fazer baixar vários marcadores de inflamação e stress oxidativo.
Q10 é uma coenzima que intervém no metabolismo celular, além de constituir um antioxidante. O organismo é capaz de produzir o composto, mas a síntese de Q10 endógena começa a diminuir por volta dos vinte anos. Os antidislipidémicos e medicação para a osteoporose (alendronato) também podem comprometer a síntese de Q10 endógena, e o mesmo se passa com muitas doenças. Há metanálises que mostraram que a suplementação com Q10 tem impacto nos marcadores de inflamação e stress oxidativo, embora outros estudos não o tenham demonstrado. Uma explicação possível é de que as formulações de Q10 usadas nos ensaios eram de qualidade inferior, que a dose era demasiado baixa, que o estudo foi de muito pequena duração, ou que os cientistas utilizaram métodos de análise diferentes.
Os investigadores responsáveis pela nova metanálise exaustiva, também conhecida como revisão umbrella, fizeram uma análise sistemática de 13 metanálises de várias bases de dados, como Web of Science, PubMed, Scopus, Embase, e Google Scholar, até Janeiro de 2023. A nova revisão umbrella, que integrou um total de 77 estudos científicos, mostrou que a suplementação com Q10 tinha impacto nos diversos marcadores de inflamação e stress oxidativo, como segue:
- Diminuição da PCR (proteína C reactiva), que é um marcador de inflamação e é produzida pelo fígado
- Diminuição do TNF-α (Factor Necrosante Tumoral Alpha), um marcador de inflamação que é produzido pelos leucócitos (macrófagos/monócitos). O TNF-α também é responsável pela sinalização celular que pode desencadear apoptose (autodestruição programada das células) e morte tecidual (necrose)
- Diminuição da IL-6 (interleucina 6), um marcador de inflamação. A interleucina 6 é libertada pelos leucócitos (macrófagos) e tem um papel essencial na fase inflamatória aguda e na febre. A IL-6 também é produzida no tecido adiposo, o que explica por que razão as pessoas com excesso de peso, muitas vezes, têm inflamação crónica
- Diminuição do MDA (dialdeído malónico), um marcador de stress oxidativo na sequência de peroxidação lipídica, que, essencialmente, é o processo de oxidação dos ácidos gordos polinsaturados
- Aumento da capacidade antioxidante total (CAT) que é a medida da protecção antioxidante geral do organismo
- Aumento dos níveis séricos do superóxido dismutase (SOD), um antioxidante que neutraliza o radical livre chamado superóxido. O SOD tem um papel essencial na própria protecção antioxidante das células.
A revisão umbrella mostrou ainda que a terapêutica aguda com Q10, durante um período inferior a 10 semanas e em doses diárias de 200 mg ou superiores, fez baixar os níveis dos marcadores de inflamação TNF- α e IL-6, e MDA (um marcador de stress oxidativo). Além disso, a suplementação diária com 100-200 mg de Q10, durante mais de 10 semanas, levou ao aumento da actividade antioxidante medida por níveis elevados de CAT e SOD. Os cientistas concluíram que a suplementação com dose elevada de Q10 pode ser a terapêutica adjuvante ideal para tratar a inflamação crónica.
O que causa inflamação crónica e stress oxidativo?
Quando o sistema imunitário está comprometido ou a funcionar incorrectamente, pode surgir inflamação crónica. A inflamação crónica aumenta o risco de stress oxidativo, e vice-versa. Verifica-se stress oxidativo quando os radicais livres nocivos são em maior número que os antioxidantes protectores. Os radicais livres são produzidos como subproduto natural de diversos processos metabólicos no organismo. São igualmente produzidos pelo metabolismo energético celular, sendo que a carga de radicais livres aumenta com a idade ou em consequência de metabolismo do oxigénio comprometido. Stress, excesso de peso, tabagismo, intoxicação, medicação, exposição a metais pesados e radiação também podem aumentar o número de radicais livres e o risco de stress oxidativo e inflamação crónica.
Porque é que a inflamação crónica e o stress oxidativo são tão nocivos?
Tanto a inflamação crónica como o stress oxidativo caracterizam-se por excesso de radicais livres no organismo. Especialmente nocivo é quando os radicais livres atacam os ácidos gordos polinsaturados nas membranas celulares (processo denominado peroxidação lipídica) e desencadeiam reacções em cadeia nas células. É igualmente perigoso quando os radicais livres atacam o colesterol, que é, de resto, um composto muito importante. Isto cria condições para a formação de placa aterosclerótica.
Suplementos de Q10 de qualidade superior
O ideal é tomar o suplemento de Q10 ao pequeno-almoço, porque reforça a energia natural. Não é assim tão fácil para o organismo absorver o Q10, pelo que se deve optar por uma formulação de qualidade superior com biodisponibilidade comprovada. Quando se tomam doses maiores, na ordem dos 200-400 mg diários, o melhor é tomar doses mais pequenas, com intervalos de algumas horas entre cada dose. Isto ajuda o organismo a absorver e metabolizar o nutriente.
Referências bibliográficas:
Sara Dabbaghi Varnousfaderani et al. Alleviating effects of coenzyme Q10 supplements on biomarkers of inflammation and oxidative stress: results from an umbrella meta-analysis. Frontiers in Pharmacology 2023
Adrianna Budzinska et al. The bisphosphonates alendronate and zoledronate induce adaptations of aerobic metabolism in permanent human endothelial cells. Scientific Reports 2023
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