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A falta de selénio aumenta o risco de infecções virais

– e até pode torná-las mais perigosas

A falta de selénio aumenta o risco de infecções viraisO selénio é imprescindível à boa defesa imunitária. Todavia, a carência de selénio é um problema comum, que aumenta o risco de infecções virais, como a gripe e o coronavírus oriundo da China, que se teme vir a tornar-se uma pandemia à escala mundial. A carência de selénio em animais e pessoas infectados é problemática porque provoca a mutação do vírus, que se torna mais agressivo. Dada a importância do selénio como antioxidante potente, a falta deste nutriente pode deixar o organismo vulnerável ao stress oxidativo, o que pode provocar danos teciduais e complicar a infecção viral. Daí ser fundamental obter sempre selénio em quantidade suficiente, porquanto também aumenta as resistências a outras infecções virais, como herpes, VIH e hepatite, segundo um artigo publicado na Nutrients.

Ao longo da história, os vírus perigosos mataram mais pessoas do que qualquer guerra ou catástrofe natural. Mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo contraíram a gripe altamente virulenta conhecida por Gripe Espanhola, que foi especialmente agressiva no período de 1918-1920. Estima-se que tenha dizimado 20 a 50 milhões de pessoas. Milhões de pessoas foram igualmente vítimas de SIDA, hepatite e vírus Ébola. Agora, a preocupação generalizada é o novo coronavírus, que começou por ser identificado na China mas que se propagou a todos os continentes.
Escusado será dizer que a higiene das mãos deve ser sempre prioritária, a fim de prevenir a propagação destes vírus, mas a alimentação também tem um papel primordial. Décadas de investigação têm mostrado que a carência em determinados micronutrientes tornam-nos mais vulneráveis ao contágio, e as infecções tornam-se cada vez mais complicadas.

Pensa-se que cerca de mil milhões de pessoas em todo mundo tenham falta de selénio, devido principalmente a terrenos de cultivo pobres no nutriente. O solo da Europa e de vastas regiões da China, Índia, América do Sul, África do Sul, e do sudoeste dos Estados Unidos, é pobre em selénio.

As defesas imunitárias requerem selénio suficiente, especialmente durante as infecções

O selénio sustenta cerca de 25 enzimas selenodependentes conhecidas como selenoproteínas, que ajudam a regular a renovação energética, defesas imunitárias, e muitas outras funções importantes. As selenoproteínas são essenciais para as defesas imunitárias naturais inespecíficas, que funcionam como tropas de assalto e que, silenciosamente, combatem os germes na retaguarda. Mas as selenoproteínas também são importantes para as defesas imunitárias adaptativas, específicas, que se desenvolvem após o nascimento e que têm a capacidade de se especializarem, formar anticorpos e criar imunidade. Um estudo americano mostrou que a suplementação diária com 200 microgramas de selénio aumentara (em 118%) a actividade das células T killer (assassinas), um tipo de linfócito. A actividade das células natural Killers (NK) também aumentou em 82%. Estes aumentos conferem mais protecção contra infecções.
Por último, muitas selenoproteínas funcionam como antioxidantes que protegem as células saudáveis quando atacadas pelas defesas imunitárias.

  • Quando se contrai uma infecção, os níveis sanguíneos de selénio caem a pique
  • Isto deve-se ao facto de as defesas imunitárias e antioxidantes precisarem de selénio suplementar quando entram em modo activo

O selénio impede as infecções virais de causarem stress oxidativo nocivo

Os radicais livres são não só essenciais mas também perigosos. Os radicais livres são moléculas de oxigénio muito agressivas com um electrão ímpar que apanha electrões de outras moléculas – para o melhor e para o pior. São também designadas por espécies reactivas de oxigénio (ROS) e têm um papel importante em várias funções fisiológicas, como sinalização celular e autodestruição programada das células (apoptose). As ROS também são subprodutos naturais da renovação energética celular que tem lugar no interior das mitocôndrias.
Quando o organismo contrai uma infecção viral, os leucócitos do sistema imunitário libertam uma cascata de ROS, na forma de peróxido de hidrogénio e superóxido, que funcionam como mísseis quando o organismo é atacado por vírus e outros microrganismos. A produção de citocinas pró-inflamatórias também gera grandes quantidades de ROS.
O importante aqui é garantir que as ROS são controladas de modo que estes radicais livres agressivos apenas executem determinadas funções, sem causarem danos ou stress oxidativo. O stress oxidativo é o desequilíbrio entre ROS e os mecanismos de defesa antioxidantes celulares, em que as ROS predominam, iniciando reacções em cadeia destrutivas dentro e fora das células. Os lípidos nas membranas celulares, juntamente com o ADN e proteínas no interior das células, são presa fácil para a actividade das ROS, e isto também se aplica ao colesterol essencial que circula na corrente sanguínea.
O impacto das ROS intensifica-se com o processo de envelhecimento e factores ambientais, como tabagismo, exposição a metais pesados, utilização de medicamentos, radiações UV do sol, e radiações electromagnéticas. O stress oxidativo cria condições para lesão celular e vários problemas crónicos, como aterosclerose, diabetes e cancro. É, por isso, essencial que os nossos mecanismos de defesa sejam capazes de combater a infecção rápida e eficazmente.
Está documentado que os níveis de ROS aumentam drasticamente e provocam stress oxidativo com respeito a infecções causadas por vírus influenza, vírus de Epstein-Barr (mononucleose), VIH, hepatite B e C, e outros tipos de vírus. O stress oxidativo pode mesmo complicar as infecções virais. Daí que, quando o organismo contrai uma infecção viral, tem necessidade urgente de antioxidantes protectores, como o selénio. Os estudos mostram que o selénio é essencial para os potentes antioxidantes GPX (glutationa peroxidase), que são especialmente importantes para neutralizar o peróxido de hidrogénio e o hidroperóxido orgânico (dois tipos específicos de ROS), antes de estes causarem danos oxidativos.

A primeira descoberta na China de um vírus potencialmente fatal por carência de selénio

Na província de Keshan, no nordeste da China, onde o solo é extremamente pobre em selénio, os cientistas identificaram uma doença cardíaca potencialmente fatal, a que chamaram Doença de Keshan. É causada por um vírus ARN, normalmente inofensivo, denominado Coxsackie, que o sistema imunitário não consegue combater sem a presença de selénio. Já em 1965, a população chinesa de Keshan encetou medidas de prevenção e erradicação da terrível doença, recorrendo a suplementos de selénio.
A doença de Keshan é consequência de carência extrema de selénio, se bem que mesmo uma pequena insuficiência possa comprometer o sistema imunitário. Vários estudos demonstraram que o selénio tem a capacidade especial de prevenir diversas infecções virais, desde que se obtenha quantidade suficiente do nutriente para saturar as selenoproteínas.

Coronavírus – de inofensivo a potencialmente fatal

O Coronavírus é uma grande família de vírus ARN que têm como reservatório aves e outros animais. É sabido que o Coronavírus provoca uma grande percentagem de constipações comuns no adulto. Foi um tipo de Coronavírus a causa da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que teve origem na China, em 2002, e vitimou mais de 800 pessoas. A nova estirpe do Coronavírus, COVID-19, foi identificado na cidade chinesa de Wuhan em Dezembro de 2019. Pensa-se que teria origem no morcego ou na cobra, com epicentro num mercado de víveres em Wuhan. Surgiram, contudo, outras hipóteses.
A nova estirpe do coronavírus ataca as vias aéreas inferiores e pode provocar bronquite e pneumonia acompanhadas de febre. A maior parte dos episódios de infecção tem sido ligeira, mas em cerca de 20 a 25% dos casos as pessoas ficam gravemente doentes, especialmente se estiverem imunocomprometidas. O número de mortos tem vindo a subir e o vírus já se propagou a vários países do Extremo Oriente e da Europa, bem como aos Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Os cientistas estão a trabalhar 24 horas por dia para desenvolver uma vacina, mas leva tempo. De qualquer modo, é fundamental que o sistema imunitário tenha os nutrientes de que precisa porque, contrariamente às vacinas, deve estar sempre preparado para resistir a qualquer agente patogénico. A este propósito, será interessante analisar todos os estudos feitos sobre selénio e outros tipos de vírus ARN.

O selénio previne a mutação do vírus da constipação, do vírus da gripe, e de outros tipos de vírus ARN

Muitas infecções fazem com que o organismo desenvolva imunidade vitalícia. A razão por que contraímos constantemente novas infecções com vírus da constipação, vírus da gripe e vírus do herpes, é que estes tipos de vírus, à semelhança do vírus Coxsackie e Coronavírus, são vírus ARN que sofrem mutação. Os diversos vírus ARN podem mudar o seu aspecto ou os seus antigénios. Por esta via, conseguem iludir o sistema imunitário, tornando praticamente impossível aos mecanismos de defesa do organismo reconhecer os vírus e combatê-los. Nestes casos, o sistema imunitário é forçado a recomeçar tudo de novo.
A Professor Melinda A. Beck, da Universidade de Carolina do Norte, Chapel Hill, E.U.A., demonstrou que ratinhos com défice de selénio, quando inoculados com o vírus Coxsackie ou o vírus influenza A, apresentaram mais mutações destes tipos de vírus ARN. Por outras palavras, a insuficiência de selénio fez com que lhes fosse mais difícil combater as infecções virais, o que não aconteceu com os ratinhos com selénio suficiente. Os ratinhos infectados e com falta de selénio desenvolveram complicações pulmonares graves, por causa das infecções, ao passo que os ratinhos que não tinham falta de selénio apenas desenvolveram sintomas ligeiros. O selénio é, por isso, essencial na prevenção destas infecções virais ou, pelo menos, para garantir que são de curta duração e com menos sintomas.

  • O selénio é muito importante para impedir que o vírus influenza e outros tipos de vírus ARN sofram mutação
  • Não é por acaso que as novas estirpes perigosas do vírus normalmente têm origem em regiões pobres em selénio da China, África Central e sudeste asiático

Menor concentração de selénio no sangue igual a maior mortalidade por SIDA

Há dois tipos de VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana). O VIH-1 é o tipo mais virulento e está disseminado em todo o mundo, ao passo que o VIH-2 encontra-se principalmente na África Ocidental.
O VIH ataca vários leucócitos do sistema imunitário (células T, monócitos, macrófagos e células dendríticas), e pode evoluir para SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), uma doença que já custou milhões de vidas. Actualmente, não existe vacina, mas é possível impedir a transmissão do vírus com a ajuda de terapêutica anti-retroviral combinada. O VIH também é um vírus ARN com uma capacidade ímpar de sofrer mutação.
Por ser crónico, o VIH provoca stress oxidativo e aumenta a necessidade de selénio e outros antioxidantes. Os indivíduos infectados por VIH e com baixa concentração de selénio no sangue têm menos células T auxiliadoras, evoluem mais rapidamente para SIDA, e têm um risco 20% mais elevado de morte pela doença comparativamente aos que têm concentração de selénio no sangue mais elevada. Os cientistas também observaram ligação entre solo pobre em selénio e aumento da mortalidade por SIDA nessas regiões. Isto mesmo foi demonstrado num estudo comparativo americano dos dois factores em vários estados.
Acontece, também, que, nos indivíduos VIH positivos, as concentrações de selénio no sangue caem a pique muito antes de começarem a sentir-se doentes. Nas pessoas infectadas por VIH, ter défice de selénio é uma bomba relógio que multiplica o risco de morte por SIDA. Há vários factores envolvidos: o sistema imunitário está comprometido, há stress oxidativo, e o selénio é insuficiente para executar as funções essenciais do organismo que dependem deste nutriente. Por outro lado, com concentrações de selénio no sangue mais elevadas, há mais hipóteses de sobreviver com SIDA.

Hepatite e outros tipos de vírus

Hoje em dia, cerca de 3% da população mundial, ou cerca de 170 milhões de pessoas, estão infectadas com hepatite C. Esta ataca as células hepáticas e células imunes. 80% dos doentes desenvolvem infecção hepática crónica, 2% evoluem para cirrose, e 1 a 2% adquirem cancro do fígado. Muitas pessoas com VIH também desenvolvem hepatite C. Esta doença caracteriza-se por stress oxidativo no fígado. Os cientistas também observaram concentrações mais baixas de antioxidantes GPX contendo selénio em doentes com hepatite C, comparativamente a indivíduos saudáveis.
Estudos mostram que o défice de selénio e de zinco aumenta o risco de a doença se tornar crónica e potencialmente fatal. Há outros estudos que mostram que a suplementação com selénio em doentes com hepatite B faz baixar o risco de a doença evoluir para cancro do fígado. Contudo, quando interrompem a suplementação, o risco de cancro do fígado é igual ao dos doentes do grupo de controlo.

Função do selénio no sistema imunitário

  • Ajuda os leucócitos a produzirem ROS para atacarem os micróbios e células malignas
  • Contribui para divisão celular e comunicação celular rápidas
  • Previne a mutação do vírus
  • Antioxidante potente que neutraliza o stress oxidativo
  • Neutraliza a inflamação crónica, que é o denominador comum da maioria das doenças crónicas
  • As infecções aumentam a necessidade de selénio

Fontes de selénio e suplementos

Peixe, marisco, iscas, ovos, lacticínios e castanha-do-pará são boas fontes de selénio. As colheitas agrícolas na Europa, geralmente, são pobres em selénio e, segundo um estudo dinamarquês publicado há vários anos, uma alimentação que integre muito peixe e marisco não é necessariamente garantia de aporte de selénio suficiente. Neste estudo, foi pedido às pessoas que ingerissem peixe e marisco cinco vezes por semana (perfazendo um total de um quilo de peixe e marisco por semana). Mesmo com esta ingestão de peixe e marisco, as amostras de sangue revelaram que não obtiveram selénio suficiente para saturar a selenoproteína P, que é muito importante e que é usada como marcador das concentrações de selénio no sangue. Os estudos mostram que são precisos cerca de 100 a 125 microgramas diários de selénio para saturar esta selenoproteína essencial, o que é muito superior ao aporte recomendado de selénio.
Em situação de infecção, aumenta a necessidade do organismo de selénio.
Na maior parte dos estudos de selénio em pessoas utilizam-se doses diárias de cerca de 100-200 microgramas (1 a 2 comprimidos). Os suplementos melhores são os que contêm levedura de selénio, donde se obtém uma diversidade de variedades de selénio, em tudo similar a que se obtém de uma alimentação rica em selénio com diversas fontes de selénio
A OMS fixou a dose máxima tolerada de selénio diário em 400 microgramas.

Importante: Não esquecer a vitamina D, vitamina C e zinco no combate às infecções virais

As infecções virais ocorrem frequentemente durante o Inverno, quando as pessoas têm mais tendência para falta de vitamina D. A vitamina C e o zinco são igualmente necessários para reforçar o sistema imunitário e neutralizar o stress oxidativo.

Referências:

Frederik Guy Hoff Sonne. Coronavirus: Hvad er den nye virus, som kinesere er døde af? Videnskab.dk 21. januar 2020

Olivia M. Guillan et al. Selenium, Selenoproteins and Viral Infection. Nutrients 2019

Jones GD et al. Selenium deficiency risk predicted to increase under future climate change.
Proceedings of the National Academy of Sciences 2017

Lutz Shomburg. Dietary Selenium and Human Health. Nutrients 2017

Hoffmann Peter R et al. The influence of selenium on immune responses. Mol Nutr Food Res.

Arthur John R et al. Selenium in the Immune System. The Journal of Nutrition. 2003.

Hertz Niels. Selen et livsvigtigt spormineral. Ny Videnskab 2002

Beck MA, Levander OA. Host nutritional status and its effect on a viral pathogen. J Infect Dis. 2000.

Cowgill U.M. The distribution of selenium and mortality owing to acquired immune deficiency syndrome in the continental Unites States. Biol Trace Elem 1997.


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