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A insuficiência de selénio generalizada aumenta o risco de morte por COVID-19

A insuficiência de selénio generalizada aumenta o risco de morte por COVID-19Segundo um grande estudo alemão, publicado na revista científica Nutrients, o oligoelemento selénio tem um papel essencial, se bem que ignorado, no bom funcionamento do sistema imunitário, e os problemas generalizados com insuficiência de selénio aumentam o risco de morte por COVID-19. Os cientistas concluíram que o doseamento do selénio no sangue dos doentes pode fornecer informações diagnósticas fundamentais. Os investigadores também concluíram que poderá ser necessário integrar suplementos de selénio no tratamento da COVID-19, sobretudo em idosos, diabéticos, e pessoas com doenças crónicas, que estão especialmente em risco de complicações potencialmente fatais. O solo agrícola da Europa e de outras regiões do mundo contém relativamente pouco selénio, razão pela qual é indispensável concentrar a atenção em obter quantidade suficiente deste nutriente essencial por uma questão de prevenção da COVID-19 e de outras infecções virais. Tudo indica que as recomendações oficiais – a chamada dose de referência ou DR – não são suficientes para satisfazer as reais necessidades do organismo.

O selénio obtém-se em alimentos como peixe, ovos, vísceras, cereais integrais e castanha-do-pará. Ainda assim, cerca de mil milhões de pessoas em todo o mundo têm falta de selénio por causa do solo pobre neste nutriente. Daí os cientistas alemães quererem fazer uma análise mais atenta ao impacto do selénio nas defesas imunitárias de pessoas com COVID-19, para verificar se existe relação entre concentração de selénio e complicações potencialmente fatais.

  • O solo da Europa e de vastas regiões da China, Índia, América do Sul, África austral e regiões do sudoeste dos EUA é pobre em selénio.
  • As colheitas pobres em selénio têm impacto em toda a cadeia alimentar.

Como é que a COVID-19 pode ser, simultaneamente, inofensiva e mortal?

Quando se adquire uma infecção, os glóbulos brancos do sistema imunitário usam os radicais livres como armas ofensivas ou mísseis. A produção de citocinas pró-inflamatórias também provoca radicais livres em cascata. O importante aqui é procurar refrear os radicais livres para evitar stress oxidativo, que é um desequilíbrio entre radicais livres e antioxidantes protectores. A maioria das pessoas infectadas com COVID-19 apresenta sintomas ligeiros, idênticos aos da gripe. Contudo, se tiverem falta de antioxidantes como o selénio, têm maior risco de stress oxidativo e sistema imunitário desregulado.
Quando as infecções COVID-19 se tornam potencialmente fatais e levam à morte dos doentes mais fragilizados, o problema não é o vírus, mas sim o facto de o sistema imunitário híper-reagir com uma tempestade de citocinas e hiperinflamação e atacar os tecidos saudáveis, provocando falência aguda do sistema respiratório. Esta situação, conhecida por síndrome de dificuldade respiratória aguda – ou SDRA – pode dar origem a lesão secundária do sistema circulatório e de outros órgãos. Os cientistas alemães salientam ainda o facto de o sistema imunitário desencadear os mesmos mecanismos descontrolados e potencialmente perigosos quando situações como a SARS (síndrome respiratória aguda grave), septicemia ou gripe se tornem potencialmente fatais.

Quando as infecções COVID-19 se tornam potencialmente fatais, o problema não é o vírus, mas sim o facto de o sistema imunitário híper-reagir com tempestade de citocinas e hiperinflamação e atacar tecidos saudáveis.

O papel do selénio nas defesas imunitárias

O selénio sustenta mais de 25 enzimas seleniodependentes, chamadas selenoproteínas, que regulam a renovação energética, funcionam como antioxidantes e têm diversas outras funções essenciais. Relativamente às defesas imunitárias, as selenoproteínas estão implicadas no que segue:

O selénio impede a mutação dos vírus

As infecções como COVID-19, constipações, gripe ou herpes são provocadas por diferentes tipos de vírus ARN que facilmente sofrem mutação (alteram os seus antigénios). Isto significa que o sistema imunitário tem de recomeçar todo o processo de reconhecimento, o que é especialmente problemático em situações de imunodepressão. E o selénio tem aqui uma função primordial.
A Professora Melinda A. Beck demonstrou que ratinhos com falta de selénio, infectados com o vírus influenza A, têm maior taxa de mutações ARN. Daí que, ao contrário dos ratinhos com selénio suficiente, os ratinhos com défice de selénio têm dificuldade em combater a gripe. Além disso, em consequência das infecções, os ratinhos com falta de selénio desenvolvem complicações pulmonares graves, ao passo que os ratinhos com boa concentração de selénio apenas têm sintomas ligeiros.
O selénio é importante, porquanto não só impede a mutação dos vírus, como permite uma evolução rápida e ligeira da infecção. Não é por acaso que várias novas estirpes do vírus – incluído o vírus influenza e coronavírus – têm origem em regiões da China pobres em selénio. É também nestas regiões que o vírus se transmite de animais a humanos.

Baixos níveis de selénio no sangue significam maior risco de morte por COVID-19

O novo estudo alemão foi realizado em colaboração com o Hospital Universitário de Heidelberg e outras instituições de ciências da saúde. Os cientistas colheram amostras de sangue de doentes com COVID-19 e estudaram os níveis de selenoproteína P, que é usada como um marcador da concentração de selénio do organismo. Mediram igualmente a actividade de antioxidantes potentes, como a glutationa peroxidase (GPx). Os investigadores puderam observar uma clara relação entre falta de várias selenoproteínas e mortalidade por COVID-19. Isto pode ser consequência de baixo teor de selénio na alimentação, associada ao facto de o sistema imunitário utilizar grande quantidade de selénio para combater as infecções. Ambas fazem com que os níveis de selénio no sangue diminuam.
Tudo indica também que os idosos, diabéticos e pessoas com doença crónica já têm inflamação indolente, que esgota os níveis de selénio. Isto aumenta o risco de tempestade de citocinas e hiperinflamação, o que torna a COVID-19 potencialmente fatal.
Os cientistas concluíram que poderão ser necessários suplementos de selénio como parte do tratamento da COVID-19, para ajudar na recuperação mais rápida dos doentes. É um tratamento simultaneamente económico e natural.
Escusado será dizer que o selénio também é importante para prevenir a COVID-19 e diminuir a possibilidade de complicações de uma infecção.

  • Quando se adquire uma infecção, os níveis de selénio no sangue caem a pique.
  • Isto acontece porque as defesas imunitárias e antioxidantes do organismo precisam de mais selénio quando entram em acção.

O novo estudo corrobora estudos anteriores

A investigação anterior, realizada pela investigadora britânica especializada em selénio, Professora Margaret Rayman, mostra diferenças no teor de selénio no solo de diversas regiões da China. A investigação mostra que, nos doentes com COVID-19 de regiões com selénio suficiente, a taxa de recuperação é muito superior, simplesmente porque as colheitas nestas regiões do país têm maior teor de selénio. Além disso, ao avaliar a concentração de selénio a partir de amostras de cabelo de pessoas de 17 cidades fora de Hubei, a investigação da Prof. Rayman demonstrou que maior concentração de selénio significa que as hipóteses de recuperação são muito superiores. Pelo contrário, a taxa de mortalidade por COVID-19 é quase cinco vezes superior nas regiões com solo pobre em selénio.

As recomendações oficiais – a dose de referência – não são ideai

Como já foi referido, a selenoproteína P é usada como marcador da concentração de selénio no organismo. Por outro lado, os estudos mostram que a dose diária recomendada de selénio de 50-70 microgramas não é suficiente para saturar devidamente a selenoproteína P. Para tal, seria necessário um aporte diário de selénio de, pelo menos, 100 microgramas. E em caso de infecção, é quase certo que a necessidade de selénio é superior.
É de preferir a levedura de selénio com diversas variedades de selénio, uma vez que é o que mais se aproxima de uma alimentação equilibrada, com diversas fontes de selénio. A EFSA (Associação Europeia de Segurança Alimentar) fixou a dose diária máxima tolerada de selénio em 300 microgramas.

IMPORTANTE! Não esquecer a importância de vitamina D, vitamina C e zinco no combate à COVID-19 e outras infecções

Como se refere noutros artigos deste site, as vitaminas D e C e o zinco são igualmente importantes para reforçar o sistema imunitário e neutralizar o stress oxidativo.

Referências bibliográficas:

Arash Moghaddam et al. Selenium Deficiency is Associated with Mortality Risk from COVID-19. Nutrients 16 July 2020

Zhang J et al. Association between regional selenium status and reported outcome of COVID-19 cases in China. The American Journal of Clinical Nutrition. Apr. 2020

James Ives. Researchers identify link between COVID-19 cure rate and regional selenium status. News Medical Apr 29 2020

Olivia M. Guillan et al. Selenium, Selenoproteins and Viral Infection. Nutrients 2019
Jones GD et al. Selenium deficiency risk predicted to increase under future climate change. Proceedings of the National Academy of Sciences 2017

Lutz Shomburg. Dietary Selenium and Human Health. Nutrients 2017

Hoffmann Peter R et al. The influence of selenium on immune responses. Mol Nutr Food Res.

Arthur John R et al. Selenium in the Immune System. The Journal of Nutrition. 2003.

Beck MA, Levander OA. Host nutritional status and its effect on a viral pathogen. J Infect Dis. 2000.


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